segunda-feira, 17 de agosto de 2009

#217

Ouvia-se a porta do quarto poente fechar-se . Ouvia-se o som dos passos assimétricos irrompendo do fundo. Lentos, indisfarçáveis, como duas asas que rastejassem pelo chão, uma mais volumosa do que outra, mais peluda, mais agarrada à terra, e outra no ar, mais breve, mais leve, ritmada, coisa de relógio, de maquineta, de despertador. Ali vinha andando a regularidade dos passos. E a regularidade parava rente ao patamar. E a voz sobressaltada - "Anda alguém aí em cima?".


Lídia Jorge, O vale da paixão.

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