quarta-feira, 23 de setembro de 2009











Chamo-me Ofélia. Aquela que não vai conseguir aguentar. A mulher no patíbulo. A mulher com as artérias cortadas. A mulher com overdose NOS LÁBIOS NEVE. A mulher com a cabeça no forno de gás. Ontem parei de me matar. Estou sozinha com os meus peitos as minhas coxas o meu colo. Eu arranco os instrumentos da minha prisão o banco a mesa a cama. Eu destruo o campo de batalha que era a minha casa. Arranco as portas das suas dobradiças para deixar entrar o vento e o grito do mundo. Eu rebento a janela. Com as minhas mãos a sangrar eu rasgo as fotografias dos homens que eu amei e que me usaram na cama na mesa na cadeira no chão. Pego fogo à minha prisão. Atiro a minha roupa para o fogo. Eu desenterro o relógio que era o meu coração para fora do meu peito. Vou para a rua, vestida no meu sangue.





      Heiner Mueller
(http://theresonly1alice.blogspot.com)



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