sábado, 9 de outubro de 2010
já a terra deu a volta sobre si mesma e as árvores de pernas para o ar criam ninhos nas raízes. com o mundo ao contrário a mulher descansa os pés no ar, cabeça nas nuvens. há uma música ligeira que vem de longe, de quando nunca se estava só. trago atado ao peito um cordão de couro com as iniciais do nome póstumo - alice - chamar-me-ão assim quando morrer. lembro a poça atrás da casa, cheia de musgo ou de medo, e a nascente na gruta onde crescia a água, fria e funda com um beiral de pedra onde as velhas lavavam roupa. e o rosto da minha filha bóia com as folhas à tona d'água. queria não lembrá-lo. ao anoitecer meia dúzia de pintassilgos debruça-se na água, debicam as folhas miúdas. quase chove e eu sempre só. ao colo a memória do corpo pequeno e encharcado, os olhos escancarados, a boca roxa, muito roxa, pele azul, muito azul. alice. chamar-me-ão assim quando morrer.
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