A minha vida é hoje
um sítio de silêncio
ruy belo
Não mais a literatura, os seus fúteis e imperiosos desígnios - julgamos dizer, insistindo numa ourivesaria do terror e em gestos que sabem o quanto chegam tarde. Quando sós, à boleia do crepúsculo, dizemos coisas assim, mentimos com os dentes todos que não temos. E a mentira (a literatura) é ainda a improvável derrota de que não nos salvaremos nunca. Tão igual à vida, portanto: pouso o copo, recupero o fôlego, fumo uma silepse. Sei que vou morrer. E isso que - talvez - nos diz é uma evidência que escurece (tivemos por amigo o desconforto). Quanto ao mais, vamos andando. Casados ou sozinhos. Mortos. manuel de freitas
primeiro desceu às árvores, ocupou-lhes a madeira, envelheceu-lhes o casco. mais tarde foi o céu cinzento, os pássaros sem asas. as flores, já não eram flores, secas. depois veio até ao rosto e ali ficou a amortecer a pele. as rugas, o frio. os olhos brancos, tão brancos. e os lábios de um roxo morto, pelo menos assim apareciam à boca quase sempre fechada. era outono. pelas ruas crescia um rumor deserto.
ne me quitte pas.
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