segunda-feira, 4 de abril de 2011




































Alguém parte uma laranja em silêncio, à entrada
de noites fabulosas.
Mergulha os polegares até onde a laranja
pensa velozmente, e se desenvolve, e aniquila, e depois
renasce. Alguém descasca uma pêra, come
um bago de uva, devota-se
aos frutos. E eu faço uma canção arguta
para entender.
Inclino-me para as mãos ocupadas, as bocas,
as línguas que devoram pela atenção dentro.

herberto helder








nas noites penduramos as memórias longas. - lembras-te daquela vez - os espaços curtos de tempo. em que nos encontrávamos para uma gargalhada. o teu sorriso lilás. penduravas as estrelas nos postes mais altos. eu pegava-te ao colo. levava-te para dentro da noite. tão dentro que ninguém te visse. ninguém. era quando gritavas e o escuro te entrava pela boca. no silêncio ninguém te ouve. mas eu sei que estás. quando por mim passam ruas iluminadas. não sei se regressas porque sabes que estou só ou porque não sabes de ninguém. nem te lembras das ruas. nem de mim. nem nos postes mais altos penduras agora estrelas. procuro-te porque talvez estejas longe. tão longe que não saibas por onde voltar. talvez a memória te abandone. às vezes acontece. não regresses à noite. procura uma manhã clara. com ruas iluminadas. largos raios de sol. hei-de esperar por ti como quem espera o dia. amanhecer.










Sem comentários:

Enviar um comentário