sábado, 2 de abril de 2011

































Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

ruy belo







há palavras que não dizemos. porque as noites frias voltaram. que o sono chegou e trouxe o mau tempo. chuva. vento forte. é quase domingo. somos quase jovens. a memória ainda não mente. lembro-me de tudo. tão bem. todas as coisas que passaram por mim. os tantos rostos. histórias que não quero esquecer. um dia escrevo-te todos os nomes. todas as pessoas que amei. as que partiram porque o vento quis ou a terra mandou. poucos corpos ficam. no final da história. olhamos a paisagem de olhos fechados e tentamos não esquecer nada. queria dizer-te mas há palavras que não dizemos. porque nos fazem mal. sei que não lembrarei certas coisas para não estragar outras. das pessoas guardo só o melhor. das viagens guardo só as mais belas fotografias. só para dizer-te que há palavras que não dizemos. só porque magoam. dessas palavras como homens estranhos a falar do sol. homens que nunca viram a luz. eu sei que me entendes. tens dentro de ti. a bater-te no peito. um coração tão grande e doente como o meu. um dia. qualquer dia. de olhos fechados às paisagens. encontraremos finalmente o silêncio.

abraço
















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