francesca woodman
passei a manhã e parte da tarde a observar-me no espelho. procurava um indício de morte sobre o rosto.
que minuciosa imperceptível tarefa teria ela iniciado durante a noite? nada visível por agora. nada se vislumbra na cor da pele, no movimento das pálpebras ou no húmido dos lábios.
doem-me as mãos. um vómito sobe. sinto-me demasiado fraco para suportar o meu próprio peso. se ao menos a morte me prevenisse que chegaria. bastava que me mostrasse um vertiginoso buraco na água, um diáfano sorriso de pássaros ou uma pedra flutuando.
al berto
pergunto-me porque morrem os pássaros. que o sul ou outro norte os detivesse quando o fracasso das montanhas lhes impedisse o voo. às vezes choro. é quando com os pássaros vou pelas maçãs do mundo. dorso de animal ferido - não falem mais - querer ser assim não basta. outro dia talvez saiba dos pássaros - não sei nunca se regresso. que estes braços me podem fugir do corpo. .quando a pele nos cai é tarde na mó dos dias e os finos cabelos voam - onde está quem nunca soube de mim. nem dos pássaros - que este mundo me pertencesse com tudo. terra.chão.nuvem.céu.erva.ar.vento.sombra.sol.água.homens.pássaros. que este mundo me pertencesse com tudo.
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