Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos Fecha os olhos agora e sossega — o pior já passou há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo. Dorme, meu amor — a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra não hão-de derrubar-me — eu já morri muitas vezes e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos agora e sossega — a porta está trancada; e os fantasmas da casa que o jardim devorou andam perdidos nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme, meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui, de guarda aos pesadelos — a noite é um poema que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.
tantas vezes imaginei: um elefante de asas ou uma carcaça de abutre entre dentes. lugares a que recorro com frequência quando à cabeça falta o juízo - pois é josé - tinhas razão. por não haver paraíso foram-se as nuvens do céu - pois é josé - sobre amor escrevi pouco.conhecer o coração é como tirar sangue de uma veia cava. funda. como os precipícios. às vezes inquieto-me. é quando fecho os olhos e o céu é uma nesga de luz. muito branca. que parece dizer: o mundo é um lugar pequeno. o mundo é um lugar pequeno - pois é josé - faltou-me uma asa. se a tivesse roubado ao elefante. talvez o elefante caísses. eu voasse. e as nuvens voltassem ligeiras ao céu.
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certamente nada me fará mais feliz. por agora - recorro sete vezes à paisagem mais linda do mundo. por dia sete para não esquecê-la. mais de sete não para não sofrer - o teu rosto. quieto entre a folhagem - imagino uma árvore surda. uma árvore-silêncio. verde. muito verde. o tronco - quero mostrar-te que linda paisagem é o teu rosto quieto. sobrevoando o medo - dir-te-ei de dias felizes enquanto o coração bater.
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