domingo, 16 de outubro de 2011











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marija mandić








Apetece-me desenhar o sol a sorrir. Apetece-me desenhar uma menina ao lado de uma árvore grande e a menina ser maior do que a árvore. Apetece-me desenhar uma casa com uma varanda e na varanda flores de caules compridíssimos, até ao alto do papel. Apetece-me desenhar um homem cheio de botões no casaco. Apetece-me desenhar seja o que for em vez de escrever esta crónica. Vou começar um livro em abril, no dia oito, e dá-me medo começar um livro, passar dois anos, a treze horas por dia, naquilo, a acordar com ele, a adormecer com ele. Apareceu-me o título logo, coisa nova para mim, andava eu a trabalhar no plano, que são quatro folhas de papel de agenda cheias de gatafunhos e setas, a maior parte dos quais ilegíveis. Aliás não é um plano, antes coisas dispersas que talvez se condensem. Mas depois o livro em si não terá nada que ver, ou pouco terá que ver, com os gatafunhos e as setas. Serve para ir habituando a mão, agora destreinada, a tropeçar no papel. O meu material são cores, imagens, sons, um ou outro nome, tralha ao acaso, farrapos. Faço-o de insignificâncias que crescem e se vertebram a pouco e pouco segundo leis misteriosas. Depois desfaço. Depois faço de novo. Depois limpo. Depois torno a limpar. Depois acabo e nunca mais o quero ver. Estes últimos tempos tenho lido. De tudo, por puro vício, e sinto-me desocupado, inútil.

antónio lobo antunes







abria mão de tudo o que tenho e do que não tenho para ter um espaço. perfeito. onde construir uma família como a tua - com mesa e pão e gente dentro - fazia um sonho. desses que à noite sonhamos e que carregamos pela vida por nos fazerem tão felizes que - que nem sei como dizê-lo. um dia talvez aprenda - por que crescem as árvores. ou quantos pássaros vivem no céu. serão tantos como avós - invento uma família como a tua. todos os dias de manhã. por me cheirar a cevada











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