sexta-feira, 25 de novembro de 2011













lieke romeijn





Pedem tanto a quem ama: pedem
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura.
Dizem: dá-nos a tua canção que sai da sombra fria.
E eles querem dizer: tu darás a tua existência
ardida, a pura mortalidade.
Às mulheres amadas darei as pedras voantes,
uma a uma, os pára-
-raios abertíssimos da voz.
As raízes afogadas do nascimento. Darei o sono
onde um copo fala
fusiforme
batido pelos dedos. Pedem tudo aquilo em que respiro.
Dá-nos tua ardente e sombria transformação.
E eu darei cada uma das minhas semanas transparentes,
lentamente uma sobre a outra.

herberto helder







não digam das horas tardias. de ler clarice. de sentir frio nos dedos descobertos das mãos - houve um tempo. não muito longe. onde ao acordar a árvore ainda lá estava. enorme. dentro do quarto. à espera para me ver partir. hoje não há árvores. eu não as encontro. e procuro dentro dos armários. debaixo dos tapetes. por baixo da cama. em cima dos móveis. nenhuma árvore me espera - ainda me lembro de haverem árvores e pássaros de bico amarelo. voavam à volta dos candeeiros. cantavam. músicas que só conhece quem está vivo - talvez eu tenha morrido










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