terça-feira, 16 de outubro de 2012





aëla labbé







 As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas

ruy belo 






em tempos tive uma casa de musgo. era dezembro e as chuvas de inverno rompiam a terra. lembro-me de lhe dar um nome. esqueci-o. tão poucas coisas a memória guarda. tanto queremos esquecer - costumava visitar esta casa. dias a fio me sentava à porta com a pele no frio dos troncos. de passagem via os pássaros e outros animais mais pequenos. um chão de folhas a abrigar o medo - esta casa perdeu-se. que vida dar-lhe fora das memórias. com que cores pintar a estação das chuvas. já não tenho sonhos - sonhava um dia ter uma casa maior. com espaços grandes onde construir carinho. com vista para lugares que não me esquecem. nenhuma casa maior poderá existir onde morrem os sonhos - eu sei que a casa de musgo em algum lugar me espera. rodeada de troncos frios onde fazer assento. sob a vista de pássaros e animais mais pequenos.




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