segunda-feira, 28 de janeiro de 2013







laura makabresku 










Não temos saudades, 
é a saudade
que nos 
tem. 

eduardo lourenço 












que parte de mim parte nos dias frios. que mãos são estas que se apartam do corpo por não terem a que se agarrar - e nos braços a pele doída pelo amor que parte - na falta de luz também as noites se deixam esquecer. é porque somos como barcos no mar alto. à procura de rota. contornando tempestades - fico. espero que o tempo quente me traga sol e me mate de luz






domingo, 27 de janeiro de 2013







laura makabresku 







deste lado da morte 
ninguém
responde. 
 pedro sena-lino 









 já quase fevereiro e o tempo passa sem que se note a ferida 
 cresce - tão tarde criança. o corpo tão gasto. como as folhas do jornal daquela infância onde não mais voltarei para te não tornar a ver - e assim perder uma parte de mim que nunca vi. deixei as asas na procissão de nossa senhora dos remédios. e a voz chama abismo a um pedaço de terra - quero que a avó me mande o castelo que me prometeu - por ser condição humana sonhar. acredito com a mesma força com que fujo à vida. ou a vida me foge 
já quase fevereiro e o tempo passa sem que se note 
a ferida cresce.





domingo, 20 de janeiro de 2013





francesca woodman












venho dormir junto de ti
e o meu corpo é uma coisa diferente
do que se vê ou toca ou sente;
é, fora de mim, essa coluna de ar onde respiro,
olhos que beijam o teu corpo exacto,
as muitas mãos que dobram o teu rosto.
Um deus que dorme, um deus que dança, e mais
que um mero deus, o breve amor do tempo. 


antónio franco alexandre








todas as noites. à mesma hora. o mesmo jeito de repousar a cara. e a pele gelada a perguntar por ele. e a pele gelada não sente nada - ninguém conhece como assim dói o coração tão só - por vezes o corpo crê ser uma árvore. ou um polvo. com ramos ou tentáculos suficientemente fortes para se agarrar à vida - por vezes a cara não quer repousar e a pele tão quente - de noite. dizem. as florestas são pardas como os gatos. e ninguém descobre o corpo - de noite. não há mares nem marinheiros que adivinhem a rota. e a rosa tem ventos fortes. fortes são os ventos de noite e a pele tão gelada.




quinta-feira, 10 de janeiro de 2013






petra collins










 Pelo teu amor dói-me o ar
 o coração e o chapéu.

 frederico garcía lorca







- quero acreditar no mundo mas dói-me tanto o corpo. tenho uma esperança tão pequena - há dias apeteceu-me morrer como morrem as plantas. por sobre a terra encolher. encolher. até desaparecer. ser nada no tudo que a terra encerra - foi quando me lembrei de todos os rostos que amei. foram-me aparecendo essas pessoas que me serviram amor e alguns sonhos. como se fosse fácil - mas amor não me engana assim. nem se lembra assim em forma de caras - mas pode ser que o passado não doa. ou doa menos um bocadinho. por as ter lembrado. assim quase tão de repente como quando as esqueci -