domingo, 22 de setembro de 2013






laura makabresku








E demais a mais a gente vai-se habituando aos objectos e acaba por ter saudades deles quando desaparecem. Teria saudades do marido se ele desaparecesse? Julgou que sim, julgou que não, julgou que sim, cessou de julgar. Em trinta e seis anos o marido não desaparecera nunca e, portanto, seria pouco natural que desaparecesse agora, perto dos setenta. Para mais afigurava-se-lhe que de há semanas para cá ele começara a arrastar um pouco uma das pernas e de perna arrastada ninguém vai muito longe.

antónio lobo antunes






- o futuro nunca chega e o tempo passa. tão rápido como os anos pela pele. já murcha de espera - a tristeza não acaba. nem o tempo - que fazer ao corpo quando a noite se precipita. que fazer da boca quando os silêncios fartam - no peito cresce musgo. humidades de um outono que não chega - às vezes acredito que o futuro é o lugar onde nunca chegamos - os braços pêndulos. as pernas esticadas e um corpo inerte pelo peso das memórias - assim vou pela vida como um voo de pássaro entre neve e gelo -









Sem comentários:

Enviar um comentário