laura makabresku
A minha morte, não ta dou.
De resto, tiveste tudo
- a flor, a sesta, o lusco-fusco,
a inquietação do dia 8,
as órbitas das mães, das mãos,
das curiosas palavras de não dizer nadinha.
Tudo tiveste: estás contente?
Feliz assim por teres tudo o que sou? Feliz por perderes tudo o que sei?
Só não te dou o que não serei.
Não, a minha morte, não ta dou.
pedro tamen
a tua morte faz anos - só agora me apercebo que já é dezembro. sei-o pela inquietação dos dias. pelo frio nas mãos. pela dor nos olhos - todos os dias são os dias da tua morte. é como se o ritual da despedida nunca tivesse chegado a acontecer. mas como dizer adeus a alguém que amo tanto - sei que em algum lugar me esperas, feliz - tu sabes a força que faço para acreditar no mundo. na sorte. no amor. que aperto com tamanha força as mãos que as unhas rasgam a pele. que deste lado do peito nada adormece. que a dor é maior nos dias frios - como ninguém conheces as minhas lágrimas. como me recuso a chorar. como acabo sempre por chorar ainda que o negue. ainda que à noite. longe do mundo dos homens que me doem - o que sempre quis foi e é ser feliz. recordo-me que me dizias que o mundo era como uma caixa onde íamos guardando memórias, no final da vida abríamos a caixa e o mais importante era ter mais memórias felizes - todas as memórias que tenho de ti são felizes. são provavelmente as memórias mais felizes da minha vida. o teu sorriso. a tua pele. o teu abraço. - se viver fosse amar-te eu seria a pessoa mais viva da terra - sei que o teu corpo já cá não está. que não posso abraçar-te. nem ver-te. muito menos tocar-te. mas este natal ninguém se sentará no teu lugar. o cantinho do sofá. junto à lareira. será teu - e eu que sempre insisti contigo que o para sempre não existia e tu sempre a convencer-me do contrário. dizias que se o para sempre não existisse então o futuro não faria sentido - talvez o futuro não exista e para sempre não faça sentido - esta noite queria adormecer no teu peito. sentir os teus pés nos meus e ouvir-te respirar - avó. tenho a certeza que habitas nuvens claras.
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