mariam sitchinava
queria morrer contigo
não queria morrer de ti
prendi o amor nos meus braços
mas uma chuva de areia negra
cospe o meu sangue onde o coração
queria morrer contigo
contra o corpo limite do dia
arder praias onde o tempo acabava
começar Deus onde era o fim
não queria morrer de ti
a noite toda tem a espessura da perda
a boca beija o batimento da terra
o medo abraça-me
e ainda é tão tarde para que morramos os dois
pedro sena lino
todos os sábados à tarde. corpos por entre campas. limpando mármore. arranjando flores. acendendo lamparinas - chove. demoro-me entre túmulos. vejo rostos e nomes de mortos - assusta-me a dedicação dos vivos - algumas pessoas choram em redor de um túmulo coberto de ramos. a tua melhor amiga morreu há pouco. estarás com certeza à espera dela num pedaço de nuvem. reserva-lhe um lugar quente aí no céu - lembro-me de quando morreste e também a mim me apetece chorar - tantas vezes é como se ainda cá estivesses que nenhum sentido tem saber do teu corpo debaixo de terra. deitado na urna. já há quase quatro anos - um dia destes encontrei um retrato teu de quando eras nova. eras tão bonita. cabelos tão negros. tão bem apanhados. olhos verdazuis tão claros. corpo esbelto. eras tão só. foste a viúva mais nova que a aldeia conheceu -