quinta-feira, 3 de julho de 2014













ezgi polat











Eu disse tudo, mas não no lugar certo.
Em cera e em metal, por mãos de gente
e estojos de veludo me deitei
e quantos me tiveram sabem quanto
amei e amo a foice do teu rosto,
os cinco ou mais sentidos que me dás.
Um sopro humano, a boca, um coração,
me tocam e alimentam, como antes
águas de chuva no lazer do pântano
quando o vento passava nos pinhais;
sou teu igual, não mais, e no meu corpo
inteiramente novo é que perdura
a liberdade, glória do teu canto.
Desejo meu, em tua sede habito;
meu mestre, escravo, amante, pois servimos
no mesmo chão o mesmo antigo lume.

antónio franco alexandre









é já julho e amadurecem amoras. o muro do caminho coberto de heras e ninhos de formigas. na serra dois pinheiros altos a prumo. nenhum ar corre - um milhafre sobrevoa a vinha - avó. nenhum mês se repete sem que te lembre. os teus olhos davam sentido ao que acontece. e é simples e pequeno mas com tanto dentro. tão imenso. tão sincero. tão nosso - os lugares tão verdes onde nos sentamos sob o calor dos dias longos. o teu cabelo branco muito enrolado ao caco da cabeça. os teus braços a ganhar cor e o teu avental de cornucópias com tantas surpresas no bolso - lembro-me tão bem daquele fim de tarde de julho. as duas aconchegadas no tronco da laranjeira a cobrir de cascas a erva seca. de tu dizeres que adoravas os dias assim quentes. que te faziam lembrar a tua mãe e eu a pedir: faz-me uma trança.avó - os teus dedos finos na pressa dos meus cabelos - tens um cabelo tão bonito. como as castanhas no mês dos teus anos - e eu a abraçar-te como se partisses . 
















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