ezgi polat
‘que nada existe e as coisas nascem no tocar
de minha mão inundada.
e é preciso esperar enquanto se morre,
e fica o campo sob o céu que se queima
preciosamente.
tenho agora a idade – e sei tudo.
digo: minha alegria é tenebrosa.
e eu desejaria levantar-me levemente
sobre as paisagens que se enchem de chuva
apaixonada.
desejaria estar em cima, no meio da alegria,
e abrir os dedos tão devagar que ninguém sentisse
a melancolia da minha inocência.
tanto desejaria ser destruído
por um lento milagre interior.’
herberto helder
uma linha de luz forte atravessa o vazio e vem aninhar-se no teu peito. em sobressalto alcanças o horizonte e olhas para trás. o meu corpo segue-te até às rochas – ao fundo ouvem-se os pássaros e uma corrente de ondas bravas cresce. no meio do areal a certeza do mundo que desaparece e. por segurança. eu seguro a tua mão – corres comigo pelo mar adentro. queres mostrar-me as sereias. e eu a dizer-te que sabia. que eram minhas irmãs de luz. princesas do sargaço – já tarde alta encostas-me ao teu peito e ficas a contar-me histórias – porque o amor não escolhe os tempos e os lugares. peço-te perdão por não te ter encontrado mais cedo. por não ter impedido os raios e as tormentas - e de noite mostro-te as constelações. conto-te as estrelas. e sei-te feliz quando a paz se faz verdade absoluta no teu peito
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