quinta-feira, 28 de maio de 2009
#166
eu espero que o mundo morra
amanhã.
enquanto enterro o coração na barriga
para não sentir absolutamente nada.
amanhã.
enquanto enterro o coração na barriga
para não sentir absolutamente nada.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
#164
as pessoas morrem nunca partem de nós, eu separei-te
de mim, cortei-te-me. em cinemas imaginários filmados por
mãos iluminadas usei teu corpo. coloquei o deserto do teu
coração rente à minha boca. lavaram-me o desespero as
lágrimas que choravas no escuro. parti-te.
estou a fazer-te luto. desejei-te tanto. discuti-te tanto
contigo. agora percebo que te atirei demais contra tantos
poemas.
agora encontramo-nos. eu tenho de colar-te os restos
para conseguir ver-te para além do que trago molhado nos
olhos, acabou o passeio no meu jardim interior, pleno de estatuas
quebradas, as noites acabo sempre assim, abraçado ao rosto
restos da pedra, agradecendo-lhe as imagens.
Pedro Sena-Lino
de mim, cortei-te-me. em cinemas imaginários filmados por
mãos iluminadas usei teu corpo. coloquei o deserto do teu
coração rente à minha boca. lavaram-me o desespero as
lágrimas que choravas no escuro. parti-te.
estou a fazer-te luto. desejei-te tanto. discuti-te tanto
contigo. agora percebo que te atirei demais contra tantos
poemas.
agora encontramo-nos. eu tenho de colar-te os restos
para conseguir ver-te para além do que trago molhado nos
olhos, acabou o passeio no meu jardim interior, pleno de estatuas
quebradas, as noites acabo sempre assim, abraçado ao rosto
restos da pedra, agradecendo-lhe as imagens.
Pedro Sena-Lino
domingo, 24 de maio de 2009
#163
*Interregno: Palavra de origem no idioma Latim, significa originalmente "entre reinados" , ou seja, designava o intervalo existente entre a deposição ou morte de um monarca e a assunção do novo.
Corriqueiramente passou a definir o espaço de tempo compreendido entre dois fatos.
Corriqueiramente passou a definir o espaço de tempo compreendido entre dois fatos.
sábado, 23 de maio de 2009
#161
já dentro da ferida fomos semelhantes
contornos da mesma dor
espadas de um ás fora de baralho
nós
cansados de perder a forma dos gestos
de caiar amores como quem grita por ajuda
fomos inteiros na semelhança
ou indiferença de duas estações primeiras
e enquanto houver luar todas as noites
existiremos
gosto de ti numa forma de gostar que só eu sei
contornos da mesma dor
espadas de um ás fora de baralho
nós
cansados de perder a forma dos gestos
de caiar amores como quem grita por ajuda
fomos inteiros na semelhança
ou indiferença de duas estações primeiras
e enquanto houver luar todas as noites
existiremos
gosto de ti numa forma de gostar que só eu sei
quinta-feira, 21 de maio de 2009
#160
casualmente hoje vi os plaggio, casualmente gostei, não por serem alternativos mas porque nos levam para espaços interiores distintos. com os plaggio aprendi a ausentar-me da mesa de café, da sala, do edifício ou da cidade inteira. a cada batida fugimos de nós, esquecemos casualmente quem somos e vamos, consumidos pela energia de um canto a duas vozes indiferentes, com o não jeito de um pássaro que passa sem se aperceber que não tem asas. apagamo-nos do mundo, renascemos como pequenas crianças de bigode. são sete os elementos que nos unem como se fossemos pequenos traços de um desenho: o guitarrista da esquerda, que a cada acorde nos devolve uma realidade ausente, o baixista que migalha a migalha alimenta o curso natural do tempo, o baterista que finge não saber o bom que é sentir o mundo inteiro aos pés e se aparta connosco, o guitarrista da direita que por entre os espaços nos habita, a voz grave que nos desperta, a voz suave que nos embala. são sete os elementos que, casualmente, esta tarde me fizeram sentir viva.
parabéns aos plaggio e um bem-haja
pelos breves momentos que me proporcionaram
na fnac da rua de santa catarina.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
#156
Dorme, que eu penso.
Cada qual assim navega
pelo seu mar imenso.
Estarás vendo. Eu estou cega.
Nem te vejo nem a mim.
No teu mar, talvez se chega.
Este, não tem fim.
Dorme, que eu penso
Que eu penso nesse navio
clarividente em que vais.
Mensagens tristes lhe envio.
Pensamentos… – nada mais.
Cecília Meireles
Cada qual assim navega
pelo seu mar imenso.
Estarás vendo. Eu estou cega.
Nem te vejo nem a mim.
No teu mar, talvez se chega.
Este, não tem fim.
Dorme, que eu penso
Que eu penso nesse navio
clarividente em que vais.
Mensagens tristes lhe envio.
Pensamentos… – nada mais.
Cecília Meireles
#154
* estou cansada, sozinha, trabalhei 12 horas, comi mal. quero outra vida que esta não me serve. é-me curta.
# 153
saber do nosso fim é morrer devagar, matar as ruas, as esquinas, a cidade inteira dentro da íris, empurrar a solidão garganta abaixo e estatelar memórias, como vidro estalado de encontro ao chão. saber do nosso fim fez-me pensar que os pássaros se quiserem voam mais que as nuvens.
#151
tempos houve em que a solidão berrava do alto da serra, a voz morta entre as giestas secas do caminho, nesses tempos acreditava-se que os homens eram trapos estendidos na eira, ao sol, e que o sol murchava os rostos e envelhecia.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
#149
quero morrer como um poema,
solenemente.
esbater-me contra todos os sentimentos
e chegar ao extase,
depois desmembrar-me até que alguém me perceba,
rima por rima,
perder a forma.
devagar esquecer que sou feita de letras,
deixar-me ser outrém,
alguém menos triste, menos isto,
menos eu.
solenemente.
esbater-me contra todos os sentimentos
e chegar ao extase,
depois desmembrar-me até que alguém me perceba,
rima por rima,
perder a forma.
devagar esquecer que sou feita de letras,
deixar-me ser outrém,
alguém menos triste, menos isto,
menos eu.
#147
longe vai o tempo em que brincávamos e corríamos sem olhar o chão, atrás das borboletas, a fugir aos sardões, colina abaixo até chegar ao rio, que nos esperava tranquilo. e há-de morrer-me esta imagem dentro dos olhos: tu deitada junto ao leito do tâmega, mãos na água e cabeça curva para o reflexo, fechas os olhos enquanto te deitas de costas. dizes: olha está ali um cão. eu olhei em volta e nada vi, mais tarde apercebi-me que falavas das nuvens.
#145
sobre a tua morte deixo meia dúzia de reticências e um grande:
foda-se! tu hás-de lembrar-te porquê.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
domingo, 3 de maio de 2009
#139
penso: os domingos serão sempre dias tristes
e dou a volta ao álbum de fotografias,
quero os tojos, as giestas amarelas, quero os pinheiros
e o rio tâmega.
e dou a volta ao álbum de fotografias,
quero os tojos, as giestas amarelas, quero os pinheiros
e o rio tâmega.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
#133
apesar de tudo
morro neste poema,
camuflada por qualquer coisa bonita,
uma palavra,
uma expressão,
um traço fino no rosto,
qualquer coisa que à primeira vista
pareça bonita.
quero qualquer coisa bonita
com que camuflar a minha vida.
morro neste poema,
camuflada por qualquer coisa bonita,
uma palavra,
uma expressão,
um traço fino no rosto,
qualquer coisa que à primeira vista
pareça bonita.
quero qualquer coisa bonita
com que camuflar a minha vida.
#131
amanhã abraço-te avó, prometo. meto-me rente ao teu colo e abraço-te pela cintura, como fazia quando era criança, depois ergo-te e dou-te duas voltas porque é o teu aniversário e tu mereces, mais do que ninguém, ser feliz. quero um sorriso avó, um par de braços, quero uma vida nova se puder ser. acho que estou a ficar cansada.
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