terça-feira, 8 de setembro de 2009
na rua do lado: dois cães, de lombo pesado, passeiam duas dores mais ou menos semelhantes. já nesta rua o velho adormece ao som de seis pés. do cimo do prédio ela inclina-se, o pescoço a anunciar a queda. de súbito, por diante da transparência do semblante, o latido urgente, como se ambas as ruas se inquietassem com um futuro próximo. ontem era tempo de ser hoje, de hoje em diante já nem ontem era tempo. conhece, decerto, tão bem o tempo que o abandonou, algures entre a retina do olho direito e a pálpebra do esquerdo, conhece, decerto, tão bem a vida que a matou num breve bater de palmas. às vezes passeia a solidão do seu corpo pelas duas ruas, pelos dois cães ou pelos seis pés, ninguém sabe, só a vêem quando a noite desce sobre o parapeito da janela, onde, morta, vem dar de comer aos pombos pela manhã.
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