sexta-feira, 22 de abril de 2011
















Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.

ana c.






às vezes do silêncio saem rostos. da minha infância fogem como loucos. pequenos rostos de gente antiga. acobardados escondem-se entre árvores e riem muito alto noite inteira. difícil é esquecer o que regressa. o cheiro das camélias. o ruído doente dos sinos. quero outro coração que não se lembre. um coração de quem não teve infância. dois olhos que não reconheçam rostos pequenos. uma boca que saiba falar silêncio. se ainda assim voltarem eu direi que é o destino.











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