Acreditei que se amasse de novo
Esqueceria outros
Pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
Organizei a memória em alfabetos
Como quem conta carneiros e amansa
No entanto flanco aberto não esqueço
E amo em ti os outros rostos.
ana cristina césar
dentro da pele guardo essas histórias. tempo de abraços. e nenhum de nós aqui ficará para falar do lugar onde nos amamos. como se habitássemos ainda as nuvens. e nenhuma árvore tivesse descoberto dois corpos assim tão dados. que nem vento passava entre as peles. nem nada. fomos felizes. decerto. ninguém nos tira esse lugar onde fomos felizes. que levaremos connosco para debaixo de qualquer terra. ainda penso muito em ti. sei dos teus olhos. enormes castanhos. o mundo inteiro à minha espera. contavas nos dedos os anos como chuva. sabias de cor o nome dos meses. os dias. os anos. fomos sempre felizes. no tempo em que nos conheciam as águas. as flores. todas as noites. estrelas. o próprio silêncio. cúmplice dos melhores amantes. nos acompanhou. velaram o teu corpo quando morreste. sei-o. tão perto sempre estiveram. tão perto. impossível seria não lembrar-te neles. a boca. o beijo. um beijo de dias inteiros. para sempre.
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