A que se referia?
- À morte – respondi.
- Sim, eu também falava da morte. Mas surpreendeu-me que você estivesse a pensar o
mesmo.
- Pensamos todos no mesmo a partir de certa altura.
- Talvez – murmurou, e a voz tinha uma ponta de orgulho. – Mas nem todos de igual maneira. Sou forte. Por isso é que penso nela. Detesto a fraqueza que se remedeia na imaginação, nas hipóteses. Não creio em nada. Não desejo crer em nada.
- Pensa que vai morrer quando quiser?
herberto helder
os dias passam por nós. tão breves. ninguém repara. ao fim de um dia outro começa. quando acordamos há outro corpo deitado. quando deitamos o outro corpo levanta. nenhum dos dois se sabe vivo. nem a si nem ao outro. os dias atrás dos outros. passam. em nós o tempo faz histórias. que depois contamos uns aos outros. como memórias ou segredos. vários. às vezes queria reinventar essa trio: passado. presente e futuro. criar outro mundo onde deixar a existência. fugir depois selvagem como as águas. por dentro da terra. construir passagens secretas entre os tempos. renascer.
o tempo é um rizoma de candelabros subterrâneos
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