o teu amor, bem sei, é uma palavra musical,
espalha-se por todos nós com a mesma ignorância,
o mesmo ar alheio com que fazes girar, suponho, os epiciclos;
ergues os ombros e dizes, hoje, amanhã, nunca mais,
surpreende o vigor, a plenitude
das coxas masculinas, habituadas ao cansaço,
separamo-nos, à procura de sinais mais fixos,
e o circuito das chamas recomeça.
é um país subtil, o olho franco das mulheres,
há nos passeios garrafas com leite apenas cinzento,
os teus pais disseram: o melhor de tudo é ser engenheiro,
morrer de casaco, com todas as pirâmides acesas,
viajar de navio de buenos aires a montevideu.
esta é a viagem que não faremos nunca, soltos
na minuciosa tarde dos lábios,
ágil pobreza.
permanentemente floresce o horizonte em colinas,
os animais olham por dentro, cheios de vazio,
como um ladrão de pouca perícia a luz
desfaz devagarmente os corpos.
ele exclama: quando me libertarás da tosca voz dormida,
para que seja
alto e altivo o coração das coisas? até quando aguardarei,
no harmonioso beliche, que a tua visão cesse?
antónio franco alexandre
às vezes o tempo pára. quando nos damos as mãos. o corpo todo nelas. e a boca na boca à margem da palavra. tão pequena. a luz forte do sol por detrás do rosto. quieto. nem as árvores mexem. um cheiro a terra. forte. a voz no ouvido: não fujas. amanhã é tarde para o coração. e eu sei teus olhos são a chuva. a tempestade. pela manhã o silêncio que acorda. durante a tarde a secura da pedra. fomos. decerto sobre nós só as manhãs claras ou as tardes de maio. amanhã é outro dia e os dias passam. não fujas.
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