quarta-feira, 25 de março de 2015








ezgi polat












É preciso falar baixo no sítio da primavera, junto
à terra nocturna. Junto à terra transfigurada.
Tudo ouve as minhas palavras talvez irremediáveis..
Infatigável perfume se acrescenta nos jacintos, fogo
sem fim circunda suas raízes leves.
É preciso não acordar do seu ofício a luz que inclina
os meus espinhos frios, a lua que inclina
meu sangue ligado e o sangue da terra nocturna.

herberto helder 














não reconhecia a primavera. o segredo dos dias maiores. o regresso dos pássaros     - o caudal dos rios de repente muito azul       - no lugar do cabeço erguem-se as giestas e a figura de um homem precipita-se - dizem que não resistiu ao equinócio. que a neve nas serras altas lhe tinha levado a cor. que desapareceu lentamente como um floco assim posto ao sol     - uma morte calma e tão cheia de luz que todos os flocos do mundo desaparecessem e. de repente. a água ocupasse o vale e só o cabeço resistisse impune - ao lugar do cabeço rumam mulheres e homens de luto. todos de preto. cabeça baixa. esperança ainda viva: que noé nos traga uma arca grande onde meter tristeza e morte - ao subir o monte uma árvore mansa onde encostar o corpo e deixar cair o coração. que ninguém saiba que tão triste assim fiquei. que ninguém o descubra. que o deserto do mundo me acuda   - 










1 comentário:

  1. Gostei mto da singeleza e beleza pictórica desta página, parabéns.

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