“(...)
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão.
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade”
al berto
vou parir pela manhã a primeira flor na boca. uma palavra antes de ser primavera - trago no colo o infinito. o bréu da noite estrelada - sou do mundo mas o mundo não é meu - onde estás mãe que não te encontro nas estrelas - quando morrer vou para o céu. mas não vou com pressa porque amo a vida. as árvores e a tua pele - no teu corpo escrevi palavras eternas - espera - em que dia estamos. que tempo é este que já não é teu - respiro fundo - recordo-me dos teus lábios azuis gelados. num suspiro a vida fugiu-te. o coração vazio - eu grito e esperneio por dentro. porque a pele não permite que a dor se expresse - sem ar - volta depressa esta noite. mãe - sangue inquieto nas veias. corpo dormente. a vida está ausente - pausa - perder-te para me encontrar. sempre e cada vez mais. agora.