terça-feira, 4 de outubro de 2011


















nicolas sisto
















A persistente solidão. Nada veio mudar isso.
É madrugada. Estás recolhido no mais profundo sono.
Tens essa virtude antiga de sair do corpo e caminhar pelo ar,
flutuando, celebrando a primeira luz que desponta.
O teu corpo está submisso. A tua alma voga,
mas parece querer despenhar-se.
Do teu corpo brotam pássaros azuis. Perseguem-se,
brincam junto ao tecto, gritam. É a vida
que se esvai. Desde o início que é assim.
A persistente solidão da tua morte que se prolonga.
Nada veio mudar isso. Nem o que te atemoriza:
o diverso da natureza, as imaginadas formas
que descreves, os fetos gigantes, uma outra glaciação
sepultada sob a casa, esta tristeza que se acerca
do teu sono. Progrides pelo quarto. Pressentes o mundo,
esse palco de fogos. Denuncias o visível. Observas o teu corpo.
Pássaros azuis brotam de ti no mesmo sonho de todas as noites.
Trazem-te as memórias que subsistem ainda,
a pouca vida que te resta. Recordam-te a infância:
um país de migrações e fugas, de enigmas
em que descrês, o que te arrasta, o que te magoa.
Recolhes as cinzas dos teus dias, as que se espalham
pela violência do voo, da breve ficção enunciada.
A persistente solidão desde o início. Desde o início, a tua morte
e este movimento de ligar as máscaras
que se soltam do teu corpo adormecido.
Tudo regressa à normalidade, à tranquilidade do teu sono.
A luz desponta inteiramente. Ergues-te
para o pressentir da embriaguez e da simetria.


luís quintais












devia começar por suscitar o interesse do hipotálamo em algo menos neutro - e então depois talvez o coração percebesse mais destas matérias estruturantes. que a vida não ensina em palavras - entro em casa e penso: glaciar - só mais tarde percebo a quantidade de abismo que carrego. como ando cansada e entro aqui como quem sai do mundo - só mais tarde - digo que ainda é tarde para dar ao hipotálamo o verdadeiro motivo. ainda que aparentemente ele o apreenda. de querer isto. que a razão sossega. que o corpo está gasto. que os dias podem ser outros e o tempo pode. evidentemente. voltar para trás - é absurdo: constato - talvez amanhã. por ser feriado. a cabeça impluda -










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