segunda-feira, 31 de agosto de 2009
pediu-me um beijo que lhe mutilasse o coração, depois fugiu-me da lembrança, do preto e branco das fotografias, para se ir afogar nas minhas lágrimas. lembrei-me então de todas as figuras da minha infância, passavam-me uma a uma rente aos olhos, rostos guardados em álbuns velhos, perdidos na gaveta da cómoda, que nunca ninguém se atreveu sequer a abrir. e é ao regresso dela que se entorpece a minha memória. sempre tão triste e tão bonita, tão bonita e tão triste que até pela boca lhe choravam as palavras. a liberdade é escrava da ilusão e ela sabia-o melhor do que ninguém.
Quando eu era criança os velhos escolhiam
dias amarelos para morrer. Trazia
os pés descalços sobre muitos caminhos
como se não ouvisse a minha mãe
a chamar-me para dentro.
O céu pesava avermelhadamente sobre
a minha cabeça como o linho sobre os mortos.
Depois houve muitos invernos.
Intempéries de silêncio debaixo das arcadas
anunciaram o fim do mundo.
Quando eu era criança as paredes de casa
eram permeáveis à luz. A minha mãe
tinha a densidade interior de uma mesa
e braços extensíveis como archotes
para fora ou bosques de bétulas.
A minha mãe pousava na superfície
do outono como um anjo ferido.
Quando eu era criança a tijoleira da cozinha
representava constelações e eu esperava
pacientemente o dia da ira do Senhor.
Quando eu era criança anoitecia
sobre a verdade intrínseca de haver ruas
pequenas e horizontes pequenos no fundo
das ruas. Os velhos sentavam-se na soleira
da porta nas noites de verão e as raparigas
sangravam demoradamente o calor
para dentro dos pulmões e cresciam-lhes
os seios, e fechavam-se em casa. Quando eu
era criança a minha mãe pousava na superfície
do outono como um anjo ferido.
José Rui Teixeira
domingo, 30 de agosto de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
do outro lado do mundo não se apertam as mãos,
apertam-se os corações e os cumprimentos habituais sangram-me no peito.
quero voltar para casa.
p.s.sabem para que lado se aperta o coração?
no sentido inverso aos ponteiros do relógio,
até ao tempo em que não era preciso pedir um abraço.
abertas sobre rosas tristes de velório.
havia uma fragata e um rio próximo, onde boiavam árvores mortas
e havia, na mais clara nitidez,
uma esperança, uma réstia de esperança,
onde se cravavam dores mais fundas
e onde corriam os juncos,
rio abaixo, até à queda altiva da água toda.
havia no teu peito um coração
perdido entre o que se diz quando se ama
e o que se perde ao partir.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
#empapar bolachas maria numa tigela de cevada; #conseguir dormir mais do que quatro horas por noite; #aprender a acordar mais devagar; #dar-te um beijo de bom dia; #ver o "meu querido mês de agosto"; #ir ao cinema e rejubilar de novo em hitler; #tornar-me uma inimiga pública; #caçar uma perdiz (sentido metafórico); #levar-te ao parque da cidade; #telefonar aos meus pais e acabar a chamada sem chorar; #dizer a expressão rais-ta-parta sem ser censurada; #passar um dia sem me lamentar da merda de vida que tenho; #comprar fruta; #fazer salada de fruta (esta está inteiramente ligada à anterior; #cozinhar batatas a murro; #ir a pé até ao cabedelo e ver o rio ser mar; #não ouvir carlos do carmo durante a próxima semana; #ser capaz de não emprestar dinheiro a ninguém; #aprender a dizer "não" quando me perguntam se está tudo bem; #encontrar as minhas luvas de rede; #ir a casa pelo menos uma vez neste mês.
sítio como a uma palavra
dessas que se gastam
e depois já não se gostam
a um som. dos que entraram
na íris, por uma abertura
na falta de ar, e saíram
para o bolso,
esse beco que temos sempre
de um lado ou de outro
das calças que forram as pernas
que correm na memória, e fogem
levando o bolso
cheio
às vezes ancorado a um
sítio como se fosse às vezes
ancorado a dois.
manuel cintra
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
#280
#278
Carson McCullers
#277
#273
deito-me de costas
e vejo estrelas numa noite onde não as há.
falo, falo, falo
e tu a apontar-me em silêncios...
#272
(em todo o caso que belo fim para a minha Alma)!...
por mário de sá carneiro.
#271
Vergílio Ferreira
#270
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
se ao menos esta dor visse
se ela saltasse fora da garganta
como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse
se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir saliva fora
sujar a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre e tem o direito de não sofrer
se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
se ao menos essa dor sangrasse... "
josé saramago
#268
#267
se conseguisse escrever a ternura do teu olhar pai, o aconchego.
poema à minha mãe:
mãe
há duas coisas que preciso dizer-te
entre a chávena repousas a mão
fria a mão, a tua, a que te amputaram à nascença.
o cotovelo gasto preso ao pó da mesa,
longe do braço,o teu, o que nunca foi perto.
há duas coisas que preciso dizer-te
mãe
duas mortes são o teu pequeno almoço
bem como um assalto à mão armada.
notícias da tua manhã, nossa.
ainda estás longe.
mãe.
tu gritas
tu levantas a mesa
tu choras um pouco
tu foges à pressa
mãe
há duas coisas que preciso dizer-te
a rua a servir de casa aos teus pés desesperados
fracos os pés, os teus, os que agora se encostam à berma.
a mão repousa ainda sobre o teu peito,
fria a mão, a tua, a que te amputaram à nascença.
grito: mãe. eu vou embora e não volto.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
#266
nunca soube muito bem onde suicidar a minha infância,
afogá-la em lágrimas sei que não resulta,
matá-la em risos muito menos,
fico-me pelas longas memórias que dela tenho.
e pelas tuas mãos, mãe,
a tatuar de dores o meu corpo.
#265
escrevo lugares e espaços em tempos diferentes deste
para estar certa da curta melodia dos afectos,
esqueço-me de outros lugares, profundos
como a inexactidão dos nossos braços juntos,
porque eu só queria encontrar um lugar onde perder o mundo
e a vida com ele e amar.
#263
#262
subitamente, talvez me pareça agora longe sem o ser,
uma criança empurra um amor varanda abaixo.
eu não respiro, respirar é a arte dos que não sentem,
e morro
subitamente, até que de dentro dos pulmões
se levantem as palavras, pintadas de silêncios,
caiadas de esperas longínquas. ainda me lembro
quando esta criança trazia nas mãos o destino
e cruzava a rua sempre pelo lado contrário. ainda
me obrigo a lembrar-lhe as feições tristes e
os gestos indecisos. subitamente.
#260
#257
O egoísmo vale o que valer fisiologicamente quem o pratica: pode ser muito valioso, e pode carecer de valor e ser desprezível. E lícito submeter a exame todo o indivíduo para se determinar se representa a linha ascendente ou a linha descendente da vida. Quando se conclui a apreciação sobre este ponto possui-se também um cânone para medir o valor que tem o seu egoísmo. Se se encontra na linha ascendente, então o valor do seu egoísmo é efectivamente extraordinário, — e por amor à vida no seu conjunto, que com ele progride, é lícito que seja mesmo levada ao extremo a preocupação por conservar, por criar o seu optimum de condições vitais. O homem isolado, o «indivíduo», tal como o conceberam até hoje o povo e o filósofo, é, com efeito, um erro: nenhuma coisa existe por si, não é um átomo, um «elo da cadeia», não é algo simplesmente herdado do passado, — é sim a inteira e única linhagem do homem até chegar a ele mesmo... Se representa a evolução descendente, a decadência, a degeneração crónica, a doença (— as doenças são já, de um modo geral, sintoma da decadência, não causas desta), então o seu valor é fraco, e manda a mais elementar justiça que ele subtraia o menos possível aos bem constituídos. Ele não é mais do que o parasita destes...
Friedrich Nietzsche
#255
sábado, 22 de agosto de 2009
#254
há qualquer coisa que incomoda, que rasga a pele neste tempo, que atravessa as paredes da alma para ser presença perpétua. há qualquer coisa que se intromete, que interrompe a vida e dá alguma graça à morte, qualquer coisa que desfaz o gelo dos pólos do corpo e faz naufragar os barcos, qualquer coisa que nos afoga em lágrimas. há qualquer coisa que incomoda, que pesa nos pés ao ponto de não conseguirmos caminhar, que rouba as palavras e as devolve em silêncios, que mata os órgãos, um a um, de dentro para fora, qualquer coisa tão dentro que a mão não a sente mas o coração toca, qualquer coisa tão forte que o peito inchado rebenta. qualquer coisa que basta para que nos empurremos ladeira abaixo. parte incerta que acanha, esmorece, amedronta e tece de morte a vida.
#252
se riscasse com a abrasadura, se
em cima e em baixo mexido às escuras,
o forno com a mão a ver se ela podia
que uma púrpura em flor fosse até ao coração,
unhas e tudo,
que estremecesse, não por dito mas sabido
contra ti, e por artes
antigas trazer o ar, fazer uma
iluminação:
mudar o mundo para que o nome coubesse,
vivaz, tocado, fértil,
houvesse um dom inseparável, música, verbo:
se eu pudesse, se a terra
se atrasasse,
se pudesse em amarga língua portuguesa com o teu nome em qualquer
parte,
para eu mesmo riscar contra ti,
raiar contra ti,
sob
serapilheiras de sangue
herberto helder
#250
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
#248
.sobre a ofélia e o baltazar. sobre quando os desenhei em são bento enquanto te esperava. sobretudo sobre não os teres levado contigo. fica para a próxima.
#247
todos os nossos dias serão cúmplices.
queria que o dia vinte de agosto de dois mil e nove se estendesse por toda uma vida.
#246
portanto hei-de acomodar-me a um qualquer canto, abraçar-me a mim própria, hibernar a dor ao fundo do coração. hoje apetece-me, rasgar de medo a raiva e de raiva o medo, deixar fluir o amor, deixar-me morrer nele. não me apetece acordar amanhã.
#245
algumas palavras. Estão juntas. Têm um sentido
capaz de vir acompanhar-te como se pelos dedos
escorresse um pouco de água, a sua transparência
súbita. Recebe o que elas te podem dar agora,
a respiração que fica tranquila e o mesmo aceno
só para que depois consigas compreender
como é fácil que tudo se perca nos teus olhos.
fernando guimarães
#243
* bom bom é: um chupa-chupa de morango em jejum, dançar ao som dos heróis do mar, beber licor beirão, deitar-me e ter saudades de te ter aqui.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
#241
instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas,
tímbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço
como sinfonia.
Bernardo Soares
#240
#238
de amanhã.
já amanhã entre as margens
do rio, nós.
já amanhã.
e parece-me tão distante
o amanhã...
terça-feira, 18 de agosto de 2009
#235
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que,desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além,
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
mário de sá-carneiro
*porque chorei quando o ouvi da voz do cesariny,esta manhã,aqui. e recordei um texto que escrevi em tempos ao ler o seu "céu em fogo", era mais ou menos assim:
espero por ti com o peito aberto, à boca do coração, os cotovelos desfacelados e um pouco de solidão. regressa-me. devagar, regressa-me. traz aos ombros uma história com um final feliz, sussurra-ma, conta-ma com os anos, deixa-a envelhecer com os meus ouvidos. respira-me. pela tarde quieta, pela vida adiante, deixa-nos esquecer numa qualquer página de livro velho, deixa-nos esmagar com o marcador de páginas de madeira, deixa-nos. ainda que se finde o tempo, ainda que morra com o nosso esqueleto, haverá sempre um pouco mais, um pouco mais de noite até ser dia.
(este texto só faz sentido agora, meu amor)
#233
às vezes creio pertencer a outro lugar, não este onde me sento, outro. um distante, desses que encalham o coração dentro de um peito, outro, que não o nosso, de onde se vê um largo buraco negro. quero rir tudo o que chorei, como se por lágrimas se vertesse em risos o que me doeu, como se fosse o mar capaz de caber dentro desta sala. subitamente ainda me sinto aqui, onde não pertenço, nesta cadeira que é chão oco de madeira tosca, nesta sala distante, onde prateleiras se erguem a sobressalto no plano interior. estou estagnada na noite, que colada ao vidro da janela, ao fundo, inclina a parede para dentro do meu olhar, como se no meu olhar coubesse o branco ou o mar. às vezes creio que estou parada mas há em mim o movimento de ruas paralelas a esta, onde casas se deserdam como órfãos sem lar.
#231
ergo-me de mim,
rente aos ouvidos ainda a tua voz,
o timbre das palavras silenciosas,
amordaçadas à pele como rastilhos.
havia tanta coisa para te dizer agora,
talvez o nevoeiro ou a manhã clara,
o fumo do incenso ou o bafo do café quente nos lábios.
tudo isto é teu, tudo em mim te pertence
mesmo não estando.
toda esta vida, assim pequena,
me não é senão a certeza de te querer nela.
#229
simple minds.
vanilla ice.
milli vanilli.
golimar.
nota: ideal para quem se encontra deprimido e triste.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
#228
#226
pergunto-me: o que distingue um erro comum de um erro de simpatia?
será o erro de simpatia um erro que se comete com uma expressão simpática no rosto? ninguém, até agora, me conseguiu esclarecer. eu prefiro pensar que isto será mais uma daquelas magníficas expressões que só se usam numa ocasião: quando se pretende fugir com o rabo à seringa, (como diz a minha avó).
#225
1º minis, tremoços e homens que andam inclinados como as grávidas;
2º o que são erros de simpatia?
3º um par de emigrantes de meia branca e sandália.
4º portas automáticas que não abrem e precisamos de saltar para o sensor dar finalmente conta que está ali alguém que quer passar.
(sobre o segundo dissertarei mais à frente).
#223
#219
#217
Lídia Jorge, O vale da paixão.
#216
domingo, 16 de agosto de 2009
#214
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
#211
a debruçar na noite a minha ausência?
podes gritar-me que volte
com as mãos suadas de orvalho,
amanhecer nos meus não-gestos?
podes ficar só mais um pouco
a mitigar as horas,
ou vais agora?
já não sabes como madrugar no meu corpo.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
#208
cravar de unhas na pele,
cerrar os dentes,
abrir as mãos e gritar.
és filho do mesmo não jeito de amar
e eu já me habituei às tuas
ausências/ distâncias.
(mas não me fujas de novo)
#207
feitos da mesma inexactidão e
que somos imcompreensíveis um sem o outro.
#206
_ foi embora, deu-lhe um problema.
_ quem lhe deu um problema?
_ não faço ideia.
_ hoje em dia ninguém dá nada a ninguém, é de estranhar.
_ ela saiu e só disse: tenho d'ir apareceu-me um problema.
_ como é? afinal deu-lhe ou apareceu-lhe um problema?
_ sei lá bem, não é a mesma coisa?
_ não. se lhe deu um problema quer dizer que alguém que ela conhece ofereceu-lhe um problema, se lhe apareceu um problema quer dizer que não foi intencional.
_ e então?
_ então que é complicado quando nos aparece um problema, é pior que uma unha encravada.
_ não sei. ela disse que tinha de ir à avenida.
_ a sério? afinal sempre é lá o removedor de problemas.
_ quem é esse?
_ não sei apenas ouvi falar.
_ hum...
* verdadeiras conversas de treta.
#204
sobre o amor pouco hei-de dizer,
já me sobraram espaços onde o esconder,
hoje é dele que se fazem todos os espaços.
ao amor nada digo,
que a lamechice do amor acarreta
tempos e lugares que não me pertencem;
ainda que habite todos os lugares do mundo
em todos os instantes.
que ao amor eu desejei a morte
e hei-de matá-lo um dia nos teus braços.
#202
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
#201
de já não me quereres.
doem-me as casas, as portas,
as ruas e os passeios.
dói-me este tempo de nada me dizeres,
e se agora me falasses
meio mundo fugiria
porque a mim, sem ti,
apenas me pertencem
meios dias.
nada é inteiro na tua ausência.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
#198
é madrugada e habitam-me algumas memórias. esta varanda está demasiado quieta, o copo de licor beirão apoia-se no chão a meu lado. na mão descansa-me o cigarro que nunca hei-de fumar, nos olhos repousa intacta a tua imagem, no corpo em peso a vontade de te abraçar. sou tão pequena joão, antes fosse maior, do tamanho da distância que nos separa para os meus braços tocarem os teus e te trazerem para mais perto. ando há dias a vaguear uma qualquer saudade, dessas que inquieta e acanha a pele por todo o corpo e arranha as paredes da alma. já há algum tempo que andava para te escrever mas a indecisão ou a astúcia do meu não jeito para sentimentos arrastava-me a vontade.hoje escrevo-te enquanto chove no meu rosto.
#197
- hoje já escrevi três pequenos poemas.
domingo, 9 de agosto de 2009
#195
habitação violenta. furam pelos ossos,
espalham os dedos em volta, os caules
aquecidos de vento, roem
lentamente os pátios inertes,
instalam a dobra azul dos cotovelos,
resistem. Têm, ambígua, a elegância
elementar da água. Dobram
as espigas nos dentes,
conhecem o nervo
estendido no céu.
mexem
os dedos na gaveta, calcário
das costas, vigiam com cuidado
as vísceras dos galos, a variável
rotação dos planetas; enquanto a galáxia
gira em si mesma intensamente inútil.
minhas pequenas dúvidas multiplicam os dentes,
decoram marx, passeiam o silêncio
pela trela.resistem,
furam pelos dedos, as vísceras
intensas do vento, estabelecem
cotovelos completos.
têm
a violência constante dos ossos,
resistem, dobram lentamente
a trela das estrelas,
ferem as vísceras
inertes do silêncio, espalham
em volta a demasia oblíqua
das espigas nos pulsos. lêem
o jornal misturado à saliva, aprendem
sem ruído as máquinas da pele:
minhas pequenas dúvidas resistem
o calcário dos nervos,
estabelecem
habitação inútil,
dobram os ossos ao calor dos pátios.
António Franco Alexandre
* as tuas pequenas dúvidas são guerra em mim.
#194
porque não podemos simplesmente ser felizes?
derrubamos tantos muros já, porque não derrubamos mais este?
deixa-me fazer-te feliz.
#192
#191
#188
sábado, 8 de agosto de 2009
#187
#185
já fiz demais ao mundo para querer
fazê-lo ver
que o tempo é um modo simples de o entender.
e se eu quisesse apenas
um pouco mais de dor
tinha esquecido para sempre o nosso
amor...
partir o tempo a meias é ter
tempo de morrer nos teus braços afinal.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
#183
encontrariam o teu nome
colado num dos meus ossos.
De mim, continuariam a nada entender.
Quanto a eu, sei que sou teu.
manuel cintra
#182
estranho como se criam hábitos em pequenos dias.