quarta-feira, 22 de abril de 2009

#81

chopin consegue cobrir todos os vazios dentro e fora de mim, ocupar os espaços em volta, empacotar a minha tristeza e arrumá-la delicadamente no convés de um qualquer navio. chopin enche-me o peito de um ar puro, às vezes é irremediável o sufoco, as palavras engasgadas à porta da boca, o silêncio interrompido pelas batidas suaves como as sombras da madrugada, terríveis como o adeus último às coisas.
devagar escutar o toque dos dedos no piano e sorrir ao chorar tudo o que ficou entalado dentro do peito, no lugar do coração. chopin é assim, incrível no que nos dá, perfeito no que nós próprios nos damos, porque ouvir chopin implica ouvir o coração a bater-nos no peito, porque ouvir chopin é saber-nos sangue a viajar pelo corpo, dentro das veias em tumulto.
e as notas musicais não invadem o espaço exterior, as notas musicais arrastam o espaço exterior para dentro de nós, enclausuram as paredes, o tecto, o chão, os móveis entre os ossos e a carne do corpo e é irremediável o grito seguinte, a dor a gemer-nos pelos poros no alarme das vísceras. ouvir chopin é libertarmo-nos dos grilhões que nos aprisionam ao que somos, sermos este, aquele, o outro, nós, vós, eles e ainda assim achar que não nos somos suficientes.

Sem comentários:

Enviar um comentário