sexta-feira, 22 de outubro de 2010


























Às quatro da manhã, arranco
     ervas daninhas do arrozal.
Mas que é isto: orvalho do campo,
                     ou lágrimas de dor?

                        herberto helder









Não pegues na colher com a mão esquerda.
Não ponhas os cotovelos na mesa.
Dobra bem o guardanapo.
Isso, para começar.

Extraia a raíz quadrada de três mil trezentos e treze.
Onde fica o Tanganica? Em que ano nasceu Cervantes?
Dou-lhe um zero em comportamento se falar com o seu colega.
Isso, para continuar.

Parece-lhe decente que um engenheiro faça verso?
A cultura é um enfeite e o negócio é o negócio.
Se continuas com essa moça fechamos-te a porta.
Isso, para viver.

Não sejas tão louco. Sê educado. Sê correcto.
Não bebas. Não fumes. Não tussas. Não respires.
Aí, sim, não respirar! Dar o não a todos os nãos.
E descansar: morrer.


gabriel celaya





uma pequena insónia atravessa a noite. foge. o coração segue com ela, ao colo. atrás dele um pequeno corpo, a pele treme. talvez de manhã te fale de como um corpo tropeça. entretanto é o sal que cai dos olhos e segue, atrás da insónia, na pressa de lhe dizer que dói. o coração dói e as palavras fogem quando o silêncio morre entre os braços.







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