quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

























rui cardoso








... sonho com uma velhice silenciosa e melancólica, a mão esquecida sobre a cabeça de um cão. o olhar preso ao cíclico fascínio das águas e dos jardins. sonho com uma velhice onde a solidão não doa. solidão superpovoada de amigos, de silhuetas andróginas para o amor, de rostos belos como sensações de sorrisos, de mãos que aprenderam a falar.

al berto





costumávamos falar noite dentro. nunca te disse que o coração me doía. como dizer-te se te doía o corpo todo. tinhas sempre uma palavra pronta. na ponta da língua à espera. ou então era o silêncio que vinha de visita. punhas as mãos à volta do meu pescoço e sorrias com o nariz encostado ao meu. pedi-te tanto para não morreres. nestas noites últimas tenho pensado tanto em ti. pensado tanto. que o teu rosto me está preso nas retinas. vejo-te em todo o lado. o dia todo falo contigo. coisas vulgares como o tempo ou as estações. e é quase primavera. plantávamos mimosas na jarra da sala. amarelas. sorrias tão alto. não havia humidade nas paredes. e as flores do tojo recostadas na varanda. sinto a tua falta.







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