domingo, 24 de abril de 2011

































No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.

herberto helder







a senhora tinha a pele como a tua. muito fina. nas mãos, na cara. nos braços. muito fina. a pele. tão fina que os ossos se viam do outro lado. fracos. os ossos. a tentear o corpo. o vestido preto tapava-lhe os joelhos. tão magros. imóveis desde os quarenta. a senhora sentada na sala.sabia de cor o nome de todos os filhos mas a idade não. a memória não guarda números. faz anos em agosto. tu fazias este abril. mais anos. tantos que nem lembro. os anos por ti não passavam. ficavam. hoje era para estar contigo. um dia voltarei a ver-te. a tua blusa azul ao vento. não te esqueças de mim avó. - tens uma campa muito bonita. flores novas. o teu sorriso de mármore - fala comigo. a senhora. na parede: quem chega que deus o salve quem parte que vá com deus.












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