sexta-feira, 23 de dezembro de 2011









brittany nicol fabry









Não sentiu medo, sequer espanto,
pois imaginava que isso também fazia parte da missão.
Mas quando avistou uma mulher
que vinha em sentido contrário ao dele,
procurou tapar com as mãos aqueles pénis-serpentes
nascidos da mesma sombria raiz, quando corria pelos labirintos.

herberto helder









há muito perderamos a força de viver. eu e o corpo. muito afastados. íamos pela vida como quem corre de encontro ao sol. às vezes. por entre uma nesga de luz. via-lhe o rosto. pálido. sozinho. à espera que o encontrasse para um sorriso - tinha em mim a vontade dos abraços longos. queria dá-los ao mundo. eram meus todos os dias de memórias longas. e o perfume das manhãs cinzentas em que me pegavas ao colo - tenho saudades tuas - não posso dizer que sou feliz. muito espaço há em mim por ocupar. sou uma casa velha. de madeira quebrada. ladeada de árvores cheias de folhas - estou tranquila. sei que me protegem alguns braços. e nas horas de maior tristeza. quando as lágrimas voltam. sei que em algum lado estarás para tomar conta do que do meu corpo partiu contigo - tenho a minha paz. dias longos desertos e o calor da pele - muitas vezes viajo. vou só. eu e os meus pensamentos. damos a volta à vila. procuramos por ti nas paredes das casas que te viram passar. queremos que voltes a tempo do natal - é já depois de amanhã e tu tão longe - vou andando pela vida. que aqui deixe ficar gestos. sorrisos. palavras. silêncios. coisas invisíveis. que mais tarde me lembrem com nostalgia. como eu me lembro de ti -







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