domingo, 14 de outubro de 2012





laura makabresku








nem sequer telefonaste
tentava caminhar e tudo o que conseguia era bater
com a cabeça no lavatório tentava lembrar-me do meu nome
e só um rápido movimento de barbatanas sujas me aflorou a boca
esperei que viesses ao entardecer
abrisses os braços para mim
esperava que surgisses como um osso de luz reconhecível
mesmo durante a noite esperei
que me prendesses de novo para que não se enchesse o quarto
de peixes de enxofre devoradores de paredes
e tu nunca vieste
mais nada me poderia acontecer
teu rosto chegava-me à memória como mancha de fumo
longínqua nódoa de água e sangue
nos pulsos
uma mancha e tu não chegaste

desculpa
o que te queria dizer talvez não fosse isto
a solidão turva-se-me de lágrimas
e nas pálpebras tremem visões do meu delírio
olho as fotografias de antigos desertos
corpos coerentes que fomos
bocas de papel amarelecido
onde a sede nunca encontrou a sua água
e às vezes ainda tenho sede de ti

al berto









como dormir de braços esticados - noite fora imagino o teu rosto submerso. os teus olhos fundos na pele. lábios desenhados pela força do silêncio. esse teu jeito trágico de ajeitar as sobrancelhas sempre que me vias - na pressa de te encontrar invento duas ou três palavras fáceis: olá amor. até depois - o teu corpo rodeado de neve. como vai frio o tempo em que não te tenho - quero morrer de pé como as árvores. que as raízes velhas me não deixem cair. que as mãos dos que amo me não deitem ao chão.



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