sábado, 1 de dezembro de 2012






laura makabresku 





 “Morrer é quando há um espaço a mais na mesa afastando as cadeiras para disfarçar, percebe-se o desconforto da ausência porque o quadro mais à esquerda e o aparador mais longe, sobretudo o quadro mais à esquerda e o buraco do primeiro prego, em que a moldura não se fixou, à vista, fala-se de maneira diferente esperando uma voz que não chega, come-se de maneira diferente, deixando uma porção na travessa de que ninguém se serve, os cotovelos vizinhos deixam de impedir os nossos e faz-nos falta que impeçam os nossos” 

 antónio lobo antunes 





 é dezembro e o teu corpo regressa dos mortos para junto do meu. avó. que ternura a tua de assim voltares de onde estás em paz - foi um golpe de frio nos pulmões e o corpo. já só osso e pele. num esforço último de resistência. deixou-se levar - lembro-me dos invernos que passei contigo. dos conjuntinhos de lã que me fazias com o vagar de quem conhece a morte e não lhe sabe fugir - queria agora um conjuntinho de lã que me aquecesse o corpo. que os dezembros estão cada vez mais frios - acho que foste feliz. que a vida não te fez mal - no inverno não deixavas a casa. o frio da serra metia-se nos ossos e impedia-te o andar. de xaile aos ombros ficavas a ver passar o tempo. de olhos mansos esquecias o futuro - sinto a tua falta avó e quando me falam de ti é como se morresses outra vez -





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