segunda-feira, 4 de agosto de 2014









Randy P. Martin






















Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.

Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.

Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos
e nem o amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade.)

orides fontela








é no verão que te lembro mais. por serem teus todos os dias quentes e os fins de tarde assim lentos. a demorar na pele. e o sol desaparecendo - quis fugir com a luz. devagar. muito devagar. corpo todo dorido. morrendo em paz - às vezes procuro-te por entre o azul. espero-te à sombra dos cedros. sentada na raiz de uma videira baixa. conto amoras como anos que passam - uma vez descobri aqui um ninho de melro. corri a contar-te. três pássaros pequenos e nus à espera da mãe - o que comem os pássaros. como voam os pássaros. para onde vão os pássaros. como se fazem os pássaros. tantas perguntas e apenas um sorriso de resposta - anoitece e tu não chegas. regresso a casa devagar. o caminho é estreito e cheira a terra quente. repito o teu nome. baixinho. como uma lenga lenga que o tempo não apaga e rima. 





















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