domingo, 8 de março de 2015









mariam sitchinava











explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco levando-me

Alejandra Pizarnik














não há regresso - entregaram o teu corpo a paraísos sem nome. nem a beleza de reconhecidos poemas te devolve vida - meu coração sem fala. na minha veia cava o buraco para a minha própria sepultura - esta manhã pareceu-me ouvir-te. corri ao teu quarto mas não estavas. não mais estarás. nunca mais te verei sentada na cama inventando paisagens. sobrevoando sonhos. rezando a todos os santos. tentando calçar as pantufas - e esta saudade aflitiva. que não passa, que insiste. que cresce - as mimosas já com flor e eu ainda sem ti. quantas primaveras me faltam para que me sente no teu colo a contar estrelas. para desaparecermos num golpe de luz forte. para sempre - as heras cobrem cada vez mais o muro e as silvas começam lentamente a florir. não tarda serão amoras - gostavas tanto de amoras. ao fim da tarde o teu avental cheio delas. e ficávamos a pintar de negro as bocas e a adivinhar o futuro - não sei se algum dia serei tão feliz como querias - tenho pena que não te tenham conhecido todas as pessoas que hoje me conhecem. falo de ti e não percebem de que ternura eras feita. do sossego dos teus olhos azuis       - quase sempre me custa respirar. viver - já nada posso partilhar contigo. já não te posso dizer: avó. deixa-me aqui ficar. quero chorar muito - tu puxavas-me para ti e abraçavas-me com força.quando parava de soluçar pousavas as tuas mãos nas minhas costas e ficávamos assim horas - mais tarde seguravas-me no queixo e dizias: sossega coração triste. se o amor existe deve estar para chegar.













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