segunda-feira, 28 de março de 2011




















e houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

herberto helder









não tinhas olhos. lembro-me. chegavas de madrugada. falavas de sonhos. ou pesadelos. como de costume com a boca de quem é silêncio. sentavas o corpo. acordavas o coração. adormecias a pele com canções ridículas. de amor. dizias. não tinhas peito. os ossos eram-te luz de dia. ou noite. fria. contavas-me da vida. gesticulavas. a pele fechada num quarto semi-vazio. só tu e eu. duas cabeças pendentes para o lado do sol que nos custa menos.














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