domingo, 27 de março de 2011

























Escuta, escuta:
tenho ainda uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei,
não vai salvar o mundo,
não mudará a vida de ninguém
- mas quem é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco mais.
Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

eugénio de andrade










quero dizer-te coisas tão simples como o coração procura água ou contar-te do céu por onde os pássaros regressam. que nunca vi. nem ouvi. outra boca. tão bonita como a tua. assim parada a olhar-me como quem beija o silêncio. ficou-me ontem a memória presa ao teu sorriso. um sorriso de ruas inteiras. ruas pintadas de março. com horas mais longas por ser primavera. outras coisas direi quando já for agosto e o teu sorriso cair com as flores de março. secas pelo sol. por agora só o teu nome chama a minha boca. na memória da tua.
















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