quinta-feira, 17 de março de 2011



























zeynep kayan




Quando aonde foi em que país?
Que vento faz quebrar nas costas destes dias
as ondas de uma antiga música que ouvida
obriga a recuar a noite prometida
em círculos quebrados para além das dunas
fazendo regressar rebanhos de alegrias
abrindo em plena tarde um espaço ao amor?
Que morte vem matar a lábil curva da dor?
Que dor me faz doer de não ter mais que morrer?



ruy belo










quando for o tempo certo. a gente fecha os olhos. a gente abre a boca. a gente gesticula a língua. a gente espera um pouco. fica só. não fala. desenha um intervalo de silêncio. levamos as mãos à cara. inconsequente. só mais tarde percebemos que queríamos dizer. como dar o peito à bala. abrir os olhos. respirar fundo. a morte chega com os pássaros. é quase primavera nos beirais de todas as casas. voltadas para a sombra. as casas. de janelas recostadas umas às outras . as paredes de todas as casas voltadas umas às outras. quase noite e o corpo tão quieto. quando o tempo assim fica a gente já não sabe. a gente espera um pouco. a gente dá duas voltas à chave. ninguém nunca há-de saber desta gente. esta gente que volta com a noite. não grita. a gente não grita. encostamos o cabelo a um pedaço de terra. não ferimos ninguém. quase mortos. quase. falta-nos a fala. a gente já não anda. fica.









Sem comentários:

Enviar um comentário