terça-feira, 2 de agosto de 2011



































agora estou na beira do penhasco e não vou voar
como o sublime bicho estratosférico brilhante
de plumas esmeraldas tentativos braços
apenas eu baço de nenhuma asa debruçado
sobre o vidro de água e em baixo
os corredores, dispostos à partida
em músculos compactos, e deles o mais jovem (vestido

de improváveis azagaias) exclama: é esta
a fonte do trovão!, e aponta
um buraco azul mudo nas paredes da pedra. por fora
de mim regresso ao som silencioso da cidade
onde todos os rostos são o papel com linhas de inventário
e as patas dos homens pousam na larga secretária
e ficam, em relevo, caminhando no sangue. e eu queria
para ti, uma cidade sem mistério,

o gelo transparente onde mergulha a imagem
dos corredores, lançados no velocíssimo sossego sem repouso
das palavras trocadas, das bocas e dos braços misturados
pela luz, que é uma areia movediça,
este saber de nós sem ócio e sem negócio, iguais
às portas do trovão, onde o mais sábio
se lança nu compacto deus do fogo e ri


antónio franco alexandre








os precipícios esperam-me - com a idade cheia os dias tristes vão-me parecer tão poucos que nem chorarei. por agora são dias inteiros. imensos. quantificáveis como os oceanos - pensarei: ao tempo que não choro - e as alegrias vão-me parecer tamanhas que o mundo ganhará significado nos meus braços - nenhum afluente procurará os rios. à minha boca vão desaguar peixes e nos meus olhos deixarão a água. doce como a memória - direi: não há regressos.









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