domingo, 3 de abril de 2016





elizabeth gadd 







Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

mia couto






fazer-me raiz e reconhecer que estive tanto tempo ausente. compreender que as manhãs se fizeram prisões e os dias sementes que nunca nasceram - perdoa-me ter interrompido o amor com desculpas de ausência. sem saber de mim perdi-me de nós - regresso agora da morte para te dizer que a luz nunca desapareceu. ocultada da vida renasce hoje em forma de raiz - sou hoje o princípio e o verbo de tudo. em tristeza descubro a alegria da aprendizagem - regresso aos teus braços com o corpo coberto de terra. desperto para o mundo com os olhos postos no caminho. no presente que cada manhã a vida me concede - a tristeza acalma e o coração iluminado sob às mais altas colinas para agradecer esta dádiva. mais um dia de vida







1 comentário:

  1. Que esplendor este de a ler e de rever nas suas palavras parte, também, da minha alma!

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